domingo, 16 de setembro de 2007

Desmoralização das instituições
Juacy da Silva
Ao longo dos últimos anos, apesar do Brasil não estar vivendo sob um regime de exceção, como aconteceu durante o período militar, o povo brasileiro simplesmente vai perdendo a fé e a confiança, não apenas em seus governantes e na classe política, nas instituições em geral.
O processo de desmoralização de quase todas instituições, incluindo os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e outros mais, a longo prazo é extremamente nefasto para a consolidação da democracia e para o desenvolvimento do país.
Este processo de desmoralização é fruto de práticas corruptas, ineficientes e, acima de tudo, pelo descaso que a elite política e econômica, governantes e gestores públicos, em todos os escalões têm em relação aos anseios, às aspirações e às necessidade do povo brasileiro.
Para o povo, e isto tem sido constatado em inúmeras pesquisas de opinião pública com muita frequência, este descaso é um verdadeiro soco na cara de cada contribuinte, cada eleitor, de cada consumidor e de cada cidadão ou cidadã.
O povo paga uma imensa carga tributária e em troca recebe muito pouco em termos de serviços públicos de qualidade. O caos na saúde, a violência, o subemprego, a miséria e outras mazelas são o retrato deste descaso. Mas o pior mesmo é saber que as instituições, principalmente as políticas, acabam se transformando em verdadeiras sinecuras, onde são realizadas negociatas, tendo como moeda de troca verbas orçamentárias, as famosas emendas, a promiscuidade entre empresários e representantes políticos, ocupação de cargos públicos através de indicados e apaniguados, cuja missão maior em vários casos é serem pontas-de-lança para as diversas maracutaias.
O caso Renan e o que tem acontecido no e com o Senado da República, instituição que no passado gozava de confiança e era constituído por figuras exponenciais de nossa história como um Rui Barbosa e tantos outros, nos últimos tempos tem se caracterizado como um ninho de cobras, chegando ao que o senador Demóstenes Torres disse após a sessão em que 40 companheiros do ínclito senador o absolveram das acusações de quebra de decoro: "Esta casa está mais suja do que pau de galinheiro".
Em passado recente, Lula, antes de chegar aos píncaros do poder, dizia que no Congresso Nacional havia 300 picaretas. Mais recente, o procurador-geral da República denunciou e o STF acatou denúncia-crime contra 40 mensaleiros, e inclusive algumas pessoas faziam paralelo com o "Ali Babá e os 40 ladrões". Agora surgiram, novamente, 40 ilustres senadores que, aliados a 6 que se acovardaram e ficaram em cima do muro, possibilitaram que Renan Calheiros ficasse livre da guilhotina da cidadania que seria a cassação de seu mandato.
A quem interessa esta desmoralização do Senado enquanto instituição? Certamente que não interessa nem à democracia, nem ao povo e nem aos Estados. Um Legislativo fraco e desmoralizado interessa a mentes doentias, aos corruptos, aos candidatos a ditadores e a partidos de fachada. Não é por acaso que o Congresso do PT há poucas semanas aprovou a tese de extinguir o Senado, convocar uma Constituinte exclusiva para fazer as reformas políticas, já que o atual Congresso, nesta visão, não tem legitimidade e nem representatividade.
Finalmente, quem mais ganhou com esta desmoralização do Senado e por tabela de todas as instituições políticas, foi Lula, cuja sede de poder a cada dia se monstra mais desmesurada e que constrói suas alianças através desses processos escusos e coloca o Senado no foco da atenção da opinião pública, reduzindo as críticas ao seu governo e suas pretensões continuístas.
Muita gente tem falado que estamos vivendo uma escalada golpista por parte do PT e do governo Lula, e para isto, um Senado desmoralizado seria o primeiro passo para ampliar o seu populismo desenfreado!
Juacy da Silva é professor universitário, mestre em sociologia e colaborador de A Gazeta. E-mail professorjuacy@yahoo.com.br - Blog www.professorjuacy.zip.net

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