AS
VEREDAS DO FUTURO
JUACY DA
SILVA
O ultimo número da
revista “Strategy + Business”,
traduzindo, Estratégia e negócios, de dezembro de 2012, uma publicação
do grupo Booz & Company, dedicada aos estudos de cunho estratégico não
apenas no universo empresarial mas também nos âmbitos nacional e mundial, traz
dois interessantes artigos um sobre o setor de pesquisa e desenvolvimento por
parte das mil maiores corporações internacionais e um outro sobre a questão dos
modelos de universidade, em um mundo em transformação tecnológica acelerada.
O primeiro artigo
intitulado “The Global innovation 1000: making
ideas work” (inovação
global 1000: fazendo as idéias funcionarem) e o segundo
“Os dilemas da universidade”,
juntam-se a um terceiro artigo também muito interessante sobre Talentos
como um recurso estratégico
tanto no âmbito das empresas quanto do Estado.
Essas reflexões nos remetem a um debate mais profundo sobre
os modelos de desenvolvimento que os vários países tem adotado e vem adotando
na busca de construir um futuro mais humano, mais justo e mais voltado para o
atendimento das necessidades da população , as oportunidades e a divisão do
bolo entre toda a população. Um dos
fatores determinantes, talvez o que maior impacto possa causar na busca desses
caminhos (veredas) e a velocidade em que
tal pocesso possa ocorrer , sem dúvida é
o desenvolvimento do conhecimento e a transformação deste em produtos e seviços
para a sociedade.
Todavia, como já tenho apontado em artigos e reflexões
anteriores, podemos agrupar os países e territórios nacionais em dois
grupos: um que desenvolve certa capacidade para gerar conhecimento e
desenvolver as áreas de ciência e tecnologia, via uma educação de qualidade e
transformadora que privilegie a capacidade individual e a criatividade, e um
segundo grupo que não consegue este feito e passa a ser apenas consumidor de
conhecimento, ciência e tecnologia.
O primeiro grupo tem as rédeas de seu destino, atingem um
nível de independência, de autonomia e, em certos casos até de hegemonia setorial ou
global, enquanto o segundo grupo, mesmo
que se “modernize” será sempre um mero
usuário do conhecimento , da ciência e tecnologia gerados além fronteiras, ficando
dependente do domínio , da transferência e pagamento desta tecnologia em todas
as áreas, inclusive nas áreas estratégicas para a independência e a soberania
nacionais.
O modelo adotado pelo Brasil está muito mais próximo do
segundo grupo do que do primeiro. Mesmo em meio a tanto orgulho e ufanismo por
parte do atual governo e de alguns anteriores, nossa capacidade de gerar
conhecimento, agregar valores, desenvolver ciência e tecnologia, criar produtos
de alto valor agregado ainda está extremamente limitada. Orgulhamos pelas
nossas exportaçõs de matéria prima de baixo valor agregado enquanto continuamos
importando produtos acabados e de alta tecnologia. Esta relação de troca não
gera novos patamares de autonomia.
Continuamos a nos orgulhar de termos mais de 200 milhões de
celulares, milhões de televisores, computadores, medicamentos , veiculos,
microondas, insumos agrícolas e tantos outros produtos sofisticados, mas a
grande maioria continua sendo importada ou quando aqui fabricados as patentes e
a propriedade intelectual pertencem a
outros países.
Nosos níveis de investimento em educação, incluindo ensino
superior, em ciência e tecnologia, inovação, criação de novos produtos estão muito abaixo da representatividade
de nossa economia, de nossa arrecadação de impostos e dos orçamentos
públicos. De forma semelhante
também o setor empresarial brasileiro pouco investe nessas áreas
estratégicas, ficando a mercê do que os poderes públicos investem, muito
pouco como sabemos. As grandes
prioridades dos governantes são setores que transformam as massas de
pobres e miseráveis e de boa parte
da classe média em eleiores de cabresto, o eterno binômio pão
é circo, bem conhecido desde o Império Romano
há mais de dois mil anos.
Enquanto isto, alguns países
que em passado não muito distante estavam em nível de desenvolvimento bem
abaixo do Brasil deram um salto extremamente rápido e hoje desfrutam da
independência e autonomia nessas áreas. Os exemplos da China, da Índia, da
Coréia do Sul, da Turquia, de Twaian e outros tigres asiáticos bem atestam esta
realidade.
Em uma próxima oportunidade irei apresentar alguns numeros
que demonstram como este setor tem se
desenvolvido em alguns desses países. Quanto ao Brasil também
precisamos ver nossas posições nos
“rankings” mundiais. A vergonha continua a mesma, nosso desempenho tem sido
vexatório!
JUACY
DASILVA, professor universitário, UFMT,
mestre em sociologia, colaborador de Hipernotícias. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy